Beja Santos
terça-feira, 20 outubro 2015
Olhos de caçador
«Olhos de Caçador, de António Brito, Porto Editora, 2014, é um livro assombroso, pode perfeitamente enfileirar ao que de melhor foi escrito sobre a guerra colonial, onde já avultam nomes sonantes como Carlos de Matos Gomes, João de Melo, José Martins Garcia, Álvaro Guerra, entre outros. Tem o vigor de uma peregrinação e até há um Fernão Mendes Pinto: Zé Fraga, mobilizado para a guerra colonial em Moçambique. E como passado rocambolesco: contrabandista e passador de emigrantes, vasto historial em expedientes, a ludibriar a GNR e a Guardia Civil. Lá vai compulsivamente para o Planalto dos Macondes, ali se irá desenrolar uma saga com todos os ingredientes onde não faltam o ódio, o delírio puro, o horrendo descrito nas suas tonalidades mais fortes, a sensualidade mais epidérmica. E esta saga é vibrante: a viagem no Niassa onde este soldado mobilizado compulsivamente ganha dinheiro a jogar e sofre tratos de polé, tal a ira que lhe reserva o comandante companhia, alcunhado de Galo Doido. Aliás, todos os militares têm alcunhas: o Ruivito, o cabo Lérias, o enfermeiro Peida Gorda, o Cu de Chumbo, o Mãozinhas… A lista é enorme, só escapam dois amigos de grande estima, o alferes Perdigoto e o sargento Bezerra. António Brito trata o leitor a duche escocês, entre o escaldante e o frígido todas as cambiantes são possíveis e nunca se fecha o livro a não ser por força maior, tal o peso da emotividade da escrita. O Galo Doido aposta em destruir Zé Fraga, no mínimo humilhá-lo ou anulá-lo. E no aquartelamento de Magolé resolve desterrá-lo para um fim do mundo: o Posto 36. Zé Fraga leva a melhor e os camaradas respeitam-no: tem os olhos do caçador, fareja a mata como ninguém, faz negócios ilícitos, fuma e planta suruma, desvia combustível para que o Mãozinhas desvie mantimentos e medicamentos para as populações carenciadas de Magolé. É ágil como um gato, não é por acaso que tem olhos de caçador, assim: “Com um dedo no ar, indiquei ao alferes que se aproximava um homem. Um só. Com o polegar para cima, fez-me sinal de ok, para avançar. Agora a iniciativa era minha. Eu saltaria para a picada e o Roscas, ao meu lado, dar-me-ia cobertura. Estava à espera que o homem fugisse quando me visse, mas não. Dei um salto e apareci na frente de arma apontada. Deixou cair a enxada e olhou-me assustado. Ao ver os outros surgirem por detrás de mim, começou a tremer e a mijar pelas pernas abaixo. Agarrei-o pelo braço para sair do trilho e voltar para a cobertura da mata. O Roscas com um braçado de ramos varreu o chão e apagou as pegadas. Depois desaparecemos pelo arvoredo com o prisioneiro”. Brito entremeia a sua prosa da linguagem mais crua que imaginar se possa, é excessivo, excessivo até mais não poder. A essência da guerra, a camaradagem, os sentimentos mais dignos e os comportamentos mais alvares reluzem numa prosa crua que se vai fixar num possessivo retábulo barroco, onde tudo é desmedido. Até se chegar ao calvário de um sinistro que afastará Zé Fraga das práticas da guerra. Nova etapa da peregrinação, que se sabe desde o primeiro capítulo que irá acabar mal, pois está exarado desde as primeiras páginas. Um notabilíssimo romance sobre a guerra colonial. E a preço muito abordável».
Beja Santos (Jurista/Escritor)
M. Cunha
quinta-feira, 16 julho 2015
SAGAL - O profeta do fim
Caríssimo António Brito, bem haja por me ter proporcionado mais uma boa leitura, pois, neste mês, após ter lido o seu livro «O céu não pode esperar», acabei ontem o seu “Sagal - O profeta do Fim” de que gostei ainda mais. Quem não deve gostar muito é a classe política e as seitas religiosas. Talvez tenha o gosto de o rever numa das nossas próximas tertúlias. Abraço.
M. Cunha (Escritor/Militar)
Deolinda Pinto
terça-feira, 19 maio 2015
O céu não pode esperar
«António, grande livro “O céu não pode esperar”. Neste mistério, gostei muito da capacidade de prender o leitor à história até ao final, de conseguir articular várias histórias ao mesmo tempo em épocas diferentes, da descrição que me fez sorrir, denunciando a capacidade imaginativa do autor e o seu estilo cheio de criatividade e originalidade. Na essência, conseguiu transmitir nesta história, a busca da verdade e do conhecimento para o ser humano aprender a ser maior no seu desenvolvimento espiritual. Na parte final conseguiu uma emotividade muito grande na escrita, a reflexão é inevitável quanto aos segredos e enigmas por revelar, por vezes a coragem falta para alcançar o desconhecido e querer sentir o que o nosso campo de visão não alcança. A sua estrela, António, está bem viva dentro de si. Parabéns!»
Deolinda Pinto (Pesquisadora do Novo Conhecimento)
Isabel de Menezes Furtado
quinta-feira, 26 junho 2014
SAGAL - Um herói feito em África
«Eu tenho a sorte de ter lido a réplica de “Sagal”. O retrato mais que perfeito de duras realidades que se vão ora recordando ou esquecendo nos muitos quilómetros percorridos, com as sapatilhas leves e confortáveis, que atenuam as memórias de tantas vidas passadas, com grande rigor retratadas, pela linguagem genuína que o autor vai usando. (…) Uma Lisboa desabrigada pelas mais vis e duras realidades, onde uns ganham e outros perdem a sua dignidade. Por toda a cidade, do Martim Moniz aos Prazeres, de Carnide à Pontinha, muito vai acontecer até à baixa do Casal Ventoso. Mas o livro foi possível por que um dia um cão cheirou uma caixa (…) e dentro desta encontrou um bebé de olho azul que a mãe de Sagal abandonou. Sagal, quem és tu afinal! Retrata tanta verdade, conhecimento e determinação, como poucos ousam ter. Um verdadeiro escritor! Com imensa mestria. Felicito-o por correr para as metas sem esquecer os atrasados».
Isabel de Menezes Furtado (Descobridora de sentidos ocultos)
Margarida Ramalho
quinta-feira, 30 maio 2013
SAGAL - O profeta do fim
Olá António Brito! Tinha lido "Olhos de Caçador" e fiquei agradavelmente surpreendida, ansiosa; li "O céu não pode esperar" e fiquei rendida, curiosa; li "Sagal"- Um herói feito em África, e fiquei intrigada, e agora “Sagal - O profeta do fim”, enche-me as medidas.
Este seu novo livro é como se estivesse a olhar para um painel de mosaicos em movimento, precisei de tempo para compreender e verbalizar o que tinha sentido e o que me causara perplexidade. Esta epopeia de Sagal, é uma delícia: A saga de Sagal não são romances, são álbuns de BD - era o que eu sentia/via enquanto lia e me deixava transportar, mais até do que ao cinema. Diferentemente, este romance “Sagal – O profeta do fim”, tem pinceladas e ambientes de “Mad max” ou “Exterminador implacável” – numa escrita muito cinematográfica.
As personagens lembram réplicas à paisana dos heróis da Marvel; Sagal é o sobrevivente de corpo retalhado, coberto de cicatrizes (…) com uma densidade psicológica que lembra Corto Maltese. Adorei a repetição da frase (marca d’água) “Estou a correr e penso. Quando corro, penso nessas merdas de antigamente. É passado, não interessa.” O ir e vir intercalado, entrelaçado de sequências narrativas da corrida, enquanto as memórias rebobinam em cada passada dura e sofrida, em cada bombada de sangue, em cada batida cardíaca.
Os textos em itálico – como as rubricas do narrador na bd – fazem efeito de espelho na narrativa, o relato na 1ª pessoa desdobra-se e Sagal faz três personagens, além de narrador omnisciente, é ele e ele, dialogando consigo próprio, procurando arrumar pensamentos e disciplinar raciocínios. Mas por ser tão pictórico, este livro mais parece um auto-retrato pelas coincidências do percurso de vida, das opções desportivas, embora com novidades que nunca se ouviram na boca do Zé Fraga nem na do Vítor Romão, as descrições do medo.
É-me difícil acreditar que, mesmo com o máximo de preparação e robustez psicológica, alguém possa passar incólume por situações tão terríveis. “Não sei se corro para recordar ou esquecer”. Sagal corre por outras razões: para ter a certeza de que está vivo, para se superar e ultrapassar fragilidades, para se fortalecer, para se flagelar (…) a corrida que impõe a si mesmo é afinal um sofrimento que ele controla. Deste modo, e bem ao contrário de Vítor Romão, Sagal conhece a ironia, e ainda melhor o sarcasmo, mas não o humor, conhece a vivacidade, mas não a alegria, conhece o conforto, mas não a felicidade, e não conhece a ternura, muito menos a paixão, nem saberia o que fazer com elas, muito menos vivenciar as belíssimas cenas eróticas de Vítor e Carmela.
Aguardo com expectativa os próximos álbuns com novas aventuras (ilustradas?) do Leão do Sagal. Deixe que lhe diga, o António Brito é um grande escritor, a leitura dos seus livros dão-nos um imenso prazer.
Margarida Ramalho (leitora obsessiva)